segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Baú da Becky: Odisséia - parte 1


Olá pessoas! Hoje no meu baú de clássicos vou falar sobre um que é O clássico, mais clássico que ele, impossível: A Odisséia, - “Ah, mas eu assisti “Tróia” com Brad Pitt – é, mas não te contaram a história direito e eu vim aqui pra dizer por que esse livro é legal. Reconheço que tem alguns percalços, mas espero te convencer que vale à pena.
Eu provavelmente vou dizer muito isso por aqui, mas a maioria dos livros que vou comentar foi que eu li na facul e, muitas vezes, fiz matérias só sobre eles. A Odisséia não é diferente, eu fiz pelo menos quatro matérias em que tive que ler as aventuras de Ulisses, então eu tenho um bocado de coisas pra falar sobre. Eu confesso que tenho uma quedinha pela literatura clássica grega, principalmente as tragédias e as epopeias (as comédias são meio sem graça e tem as mesmas situações que essas sitcoms ridículas por aí).
Sobre o nosso livro em si, gostaria de colocar algumas curiosidades que vão facilitar sua leitura e tirar um pouco do preconceito de “livro difícil”; outra coisa importante é que, por ser um poema bem antigo, vc deve saber como termina, né? Mesmo sem nunca ter lido (eu chamo isso de conhecimento por osmose: vc não se lembra quando aprendeu, vc apenas sabe, igual Shakespeare) então não vou ficar com dedos por causa de “spoiler”.
Bom, quando pensamos em Odisséia outro nome vem à nossa cabeça: Ilíada. A Ilíada conta sobre a guerra de Tróia, certo? Nããoo!! Quer dizer, mais ou menos, mas não conta a parte legal que é como os gregos vencem a guerra, isso é contado na Odisséia pelo Aquiles, a Ilíada termina com o funeral de Heitor, o herói troiano irmão do Orlando Bloom, digo, Páris. Mas entre a Ilíada e a Odisséia tem um intervalo de 50 anos, os livros possuem contradições e o autor, Homero, na verdade não existe em uma pessoa, era uma família. E aí vem o principal problema com esses poemas e a dificuldade do homem moderno lê-los, nós temos experiências individualistas com os livros, os lemos sozinhos com nossa voz do pensamento, mas até o século XVIII a leitura era um evento social tanto pela falta e cultura das camadas mais pobres quanto pelo difícil acesso aos livros. A invenção do Romantismo (sim, foi uma invenção, um dia falo sobre isso) que mudou os hábitos das pessoas. E na época de “Homero” nem livros tinham, existia uma profissão chamada aedo, eles decoravam, vou repetir, de-co-ra-vam os poemas e declamavam para o público em festas, cortes e praças, daí a dificuldade para nós, românticos (entendam como o movimento) de ler algo que é para ser ouvido.
Então por que ele foi escrito? Aqui entra a figura de Homero (ou quantas pessoas cabem nesse ser) de fazer um trabalho parecido com os irmãos Grimm na Alemanha, ele(s) coletou essas histórias já muito famosas de vários aedos (daí as contradições) e as registrou. Mas, o que acontece quando escrevemos algo? Nos esquecemos. A modernidade trouxe uma memória fraca e a necessidade de anotarmos tudo (vou desenvolver essa ideia de esquecimento com o desenrolar da história). Esses dois livros em particular tem partes que nós descartaríamos fácil numa edição, que são partes muito descritivas e irrelevantes para a história, mas elas estão lá porque era uma forma dos aedos se exibirem, mostrarem o quanto eles eram bons (aparentemente, decorar um poema épico era algo trivial pra eles, tão fácil que eles injetavam essas partes). Ok, se convenceu um pouco? Então vamos para o enredo em si.
Odisseia porque são as aventuras de Odisseu (aka Ulisses) tentando voltar para casa depois da guerra de Tróia. Também precisamos montar os times de deuses gregos: a favor de Ulisses está Atenas (ou Palas Atena) e contra está Poseidon. E o poema começa mesmo com uma reunião dos deuses acerca de Ulisses (e vc pensou que os deuses não se ocupam de reles mortais, hein? Seja um herói épico em primeiro lugar). O texto pode ser dividido em três partes, Telemaquia, Regresso e Volta à Ítaca. Então a primeira parte trata do filho de Ulisses, Telêmaco, que está com vinte anos e precisa tomar uma postura, pois faz vinte anos que Ulisses partiu pra guerra e deixou sua família e seu reino. Todos acham que ele está morto, menos Penélope sua esposa, mas há um agravante: uma mulher viúva, rica e poderosa não pode ficar sozinha, então pretendentes à sua mão invadiram sua casa e não saem de lá até que ela escolha um para se casar e governar Ítaca, eles literalmente se mudaram para lá consumindo os bens de Ulisses. E Telêmaco está nessa situação, com a ajuda de Atena disfarçada ele toma a palavra e se mostra homem, decide sair em viagem em busca de notícias de seu pai. Sua principal parada foi na casa da causadora da guerra, Helena agora restituída à sua casa e ao rei Menelau (viu como o filme não te contou tudo?). E nem vem dizer que ela está infeliz, foi forçada a se separar de Páris etc. já disse que o romantismo foi uma invenção. Aliás, tem várias versões sobre o mito de Helena com a guerra, a mais contada é que as três deusas (Atena, Hera e Afrodite) chegaram para Páris e pediram para ele escolher a melhor deusa e cada uma prometeu um presente caso fosse escolhida (agora por que a opinião de Páris é relevante não me pergunte) e ele escolheu Afrodite porque ela lhe prometera mulher mais linda do mundo, Helena, simples assim. Helena reconhece que estava fora de si quando fugiu com Páris e provocou tudo aquilo.
Olha, eu acabei de me dar conta que um post só sobre a Odisséia ou é muito pouco, ou será muito longo e meio chato (eu nem falei do Ulisses ainda!). Então vou dividir em três partes: já falei um pouco da Telemaquia, que é bem isso mesmo, são só quatro cantos; e vou fazer um sobre o Regresso, que é onde as aventuras estão, e um sobre a Volta à Ítaca. Pode ser?Dá tempo de vc ler até lá! Hehe
OBS.: Ah! Ficou meio em dúvida com algumas coisas que eu afirmei aqui? Ótimo! Vc tem espírito crítico, mas já falei que fiz várias matérias sobre a Odisséia, inclusive uma filosófica e posso indicar o livro da minha professora, Jeanne Marie Gagnebin – Lembrar, Escrever, Esquecer. Lá tem um capítulo só sobre a Odisséia e muito do que eu disse está lá! ;)

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