quinta-feira, 10 de julho de 2014

Baú da Becky: 1984


Sinopse: “Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceania não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O'Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que "só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".”
Estou abrindo meu baú de clássicos e o primeiro que peguei para falar para vocês é um clássico moderno: 1984 de George Orwell. Decidi começar por este porque entendo que seja o romance mais importante do século XX, pode não ser o melhor, mas é sim o mais importante. Escrito em 1948 ele relata tudo o que vivemos nessa era da mídia e usa o absurdo da distopia para tentar nos chamar a atenção.
Antes de entrar no romance em si quero começar com o conceito de utopia. Eu fiz uma matéria na facul sobre o livro Utopia de Thomas Morus e foi ele que inaugurou tanto o conceito quanto a palavra. No livro um viajante chega à ilha de Utopia e descreve o que vê por lá, sendo uma sociedade tida como perfeita e sem falhas, todos vivem felizes, mas presos às regras e ao sistema. Hoje em dia designamos utópico algo ideal e inatingível.
Sendo assim George Orwell nos apresenta uma distopia que possui mecanismos parecidos com os utópicos, mas seu objetivo não visa o bem-estar e felicidade da maioria e sim o poder. Só pra citar, temos outras obras que apresentam diferentes tipos de distopia: V de Vingança; Clube da Luta, Jogos Vorazes, Divergente, Laranja Mecânica e por aí vai.
Finalmente chegamos ao romance em si! O livro apresenta uma realidade alternativa pós grandes guerras e inclui o que teria acontecido se a Guerra Fria tivesse saído das ameaças e entrado no conflito. O mundo está dividido em três grandes superpotências continentais (Oceania, Eurásia e Lestásia) que estão numa guerra eterna entre si. Orwell acaba polarizando os territórios de forma que hoje não seria muito diferente: China, Rússia (ou a URSS) e Estados Unidos, que sempre arrumam um motivo pra brigar, mas depois ataca uma esquizofrenia e se aliam para algum interesse comum.
O personagem principal é Winton Smith, ele é membro do Partido Externo que consiste na maior parte da população que faz o trabalho operacional, e, portanto, é a parcela que interessa manipular. É uma sociedade que se baseia no coletivo, mas é solitária, não há leis escritas, mas não se pode fazer nada que o Grande Irmão veja como ameaça senão a pessoa é simplesmente riscada do mapa. Aliás, quando se fala de 1984vem à memória exatamente esse personagem: o Grande Irmão ou Big Brother. Ele está presente em todos os lugares e as pessoas são constantemente lembradas disso através do segundo personagem mais marcante: a teletela, uma espécie de televisão que recebe e transmite imagens e sons, instalada em todas as casas, ela até chama as pessoas para fazerem exercícios na frente dela e todo o conhecimento disponível é através dela, pois ter um livro ou um papel e caneta é algo que magoa o Grande Irmão e ele não perdoa.
Estou dando esse panorama do livro porque não quero entrar muito fundo no enredo para não atrapalhar sua leitura, mas vou tratar disso: o enredo começa mesmo quando Winston começa a fazer algo inusitado, pensar. Este é o ponto central da obra, controle de pensamento. O governo vigente não obriga nada, mas implanta na cabeça já bem fraca das pessoas aquilo que elas devem pensar e usa o medo para paralisar qualquer ação contrária. Eles investem nas crianças para garantir esse poder perpétuo e aumentar seu exército de espiões. Winston começa apenas a discernir o mundo ao seu redor e a relatar tudo em seu diário num cantinho escondido da teletela, então seus olhos se abrem e ele busca alguém com quem partilhar esses pensamentos e aí a história começa a andar de verdade.
Enquanto ele descobre as falhas do sistema e põe seu cérebro pra raciocinar, tem uma passagem muito interessante que, estando Winston no trabalho chega o momento diário de Dois Minutos de Ódio (sim, é isso mesmo!) em que eles colocam na teletela imagens do grande inimigo da Oceania e as pessoas começam a gritar palavras de ódio quase descontroladas e nosso personagem estava fazendo a mesma coisa irracionalmente, sem saber o que aquele homem tinha feito, só sabia que precisava odiá-lo, até que caiu em si. Esse é um dos momentos marcantes de Winston. Muitas vezes não sabemos por que não gostamos de certas coisas ou pessoas, simplesmente odiamos, como nesses casos de ódio coletivo que levou ao linchamento de uma pessoa inocente, ação sem razão.
Existem muitos absurdos na sociedade de Winston, mas grande parte deles está também na nossa sociedade: você carrega uma teletela pra cima e para baixo todo dia e não desgruda dela, certo? Eu também. Você acha que tem alguma coisa errada com seu governo? Eu também. Você tem a impressão que as notícias que saem nos jornais são meias verdades ou completas mentiras? Eu também. Você foi convencido que colocar coisas pessoais na internet é legal? Eu também. Você está com vontade de olhar por cima do seu ombro pra ver se tem alguém te vigiando? Eu também!
Esse livro pode parecer um pouco pesado exatamente porque quando voltamos à nossa realidade não vemos muita diferença da ficcional e é legal ler para fugir da realidade, mas este pode mudar nossa percepção do mundo atual. Eu acho muito válido quando livros como a série Jogos Voraz faz sucesso entre os adolescentes e jovens porque abre os olhos para algo além do romance e da aventura, prepara o olhar crítico e a não aceitar qualquer verdade só porque ela saiu de uma tela, além de construir um leitor apto para ler esse clássico moderno.

Escrito por Rebeca Romeiro.

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