sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Baú da Becky: Odisséia – Parte II



Olá! E aí, deu tempo de ler a Odisséia durante o último mês? hehe, espero que sim. Chegamos a parte mais legal da obra, O Regresso, os cantos V ao XII que é quando acontecem as famosas aventuras do nosso herói tentando voltar para casa, aventuras como as sereias, o ciclope Polifemo, a ida ao inferno etc. Na verdade, Ulisses é melhor contador de histórias que aventureiro, pois todas as suas provações e aventuras são narradas no passado, por ele mesmo e por um aedo (lembra dele?). Então quando lemos essas aventuras já sabemos que Ulisses sobrepujou a todas essas peripécias.
É uma estrutura narrativa interessante a que a Odisséia foi escrita. Logo após a parte de Telêmaco, finalmente aparece o Ulisses preso na ilha da ninfa Calipso lamentando a perda de seus comandados, de seu navio e com saudades de casa. Ele é refém de Calipso só porque ela é uma espécie de divindade e está apaixonada por ele, e eles transam todas as noites, sim, nosso grande herói chora durante o dia (literalmente) de saudades da sua esposa e à noite parece esquecer-se dela nos braços da ninfa, mas enfim, isso era bem tolerado e até esperado de um homem. Ele fica lá por alguns anos nessa dura rotina até que os deuses despertam pra vida e decidem ver o que fazer a respeito dele (o início da obra é aquela conferência, lembra?) e Hermes, o deus mensageiro, vem convencer Calipso a deixar Ulisses partir. Ela consente, mas tem uma última carta para agarrar seu amor: se Ulisses escolhê-la ela o transformará em divindade e ele poderá viver para sempre, ao lado dela, claro. Ele recusa e finalmente sai da ilha para voltar para os braços da (traída) Penélope, que na minha humilde opinião, é a verdadeira heroína da história. Sua escolha pela humanidade e, consequentemente pela mortalidade é interessante e mostra que ele atingiu um equilíbrio ao invés de escolher algo não natural. Nesse ponto, ele pode ser considerado um herói maior que Aquiles, pois conseguiu a glória eterna e a vida, enquanto Aquiles teve que escolher e optou pela glória, mas achou enfado no mundo dos mortos (dêem uma olhada na passagem que Ulisses vai até o inferno e encontra Aquiles).
Ok, mesmo sendo uma obra muitíssimo conhecida, não vou contar nem descrever todas as aventuras, para isso o(s) autor(es) escreveram melhor que eu. Porém algumas partes chamam a atenção para um padrão que a Odisséia estabelece com o fenômeno do esquecimento, sendo o mais forte a narrativa, a poética. Por isso que a estrutura do livro está em contar eventos passados, ao contar quem ouve e quem conta se esquece de si. Como num filme ou quando lemos um livro, por aqueles instantes não somos nós, nos esquecemos da nossa história para dar lugar à história do outro. Isso naOdisséia acontece em vários momentos como o Telêmaco na casa de Menelau, já que a Helena tem algum parentesco com as mais temidas sereias e usa de drogas e da poética para contar ao filho de Ulisses as glórias de seu pai; as próprias sereias são o ponto alto do esquecimento, pois ninguém resiste à força de suas narrativas sem perder a vida (sério, se nada te atraiu nessa obra leia  a passagem das sereias, é poderoso  cantoXII, vou fazer uma digressão aqui, mas vale à pena! Essa passagem das sereias é tão intrigante que os grandes filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer dedicaram um capítulo do livro Dialética do Esclarecimento à elas); ainda tem a passagem com os lotófagos que comem a flor de lotos para esquecerem; além do próprio Ulisses que conta sua história na corte dos feácios (uma espécie de país místico que ele naufraga após sair da ilha de Calipso) após se seduzir pela sua própria história contada pelo aedo da corte.
Essa parte do Regresso é a mais rica da trama, pois é quando a narrativa se dá no passado dos personagens, quando eles contam o que lhes ocorreu. Vou deixar aqui um gancho bem interessante para a parte final, a Volta à ÍtacaEnquanto Ulisses está pelo mundo em suas aventuras, Penélope está em casa segurando a situação como pode. Depois de 18 anos fora, acredita-se que Ulisses está morto e Ítaca precisa de um novo líder assim como Penélope precisa de um novo marido. Ela manipula os pretendentes à sua mão dizendo que está tecendo uma mortalha para Laerte, seu sogro e que, quando terminar, se decidirá acerca do novo marido. Ela tece durante o dia e desfaz seu trabalho à noite a fim de ganhar tempo. Paralelamente a isso Ulisses está tentando retornar ao lar, passando por diversas dificuldades e empecilhos. Agora, preste atenção a essas palavras: Tecer - tecido – texto - trama. Enquanto Penélope não termina seu tecido e Ulisses não termina seu texto (narrativa) eles não se reencontram. Os pretendentes descobrem o ardil de Penélope e a forçam a terminar de vez o tecido, quando ela termina, Ulisses chega á Ítaca juntando assim as duas tramas e partindo para o final do livro que nós vamos ver no próximo post! Mais um mês para ler o grande início da literatura ocidental. Espero que tenham gostado ou ao menos dado aquela vontadinha de ler.

Dica do mês: Se você começar a ler a Odisseia e ver que a linguagem tá muito complicada e pensar em desistir, talvez você possa se iniciar numa coleção juvenil do autor Rick Riordan, Percy Jackson. Ele reconta muitos mitos gregos através da perspectiva e das aventuras desse garoto. O livro Mar de Monstros conta a maioria dessas aventuras de Ulisses de uma maneira muito interessante e inovadora. Mesmo sendo destinado a um público juvenil os livros dele não subestimam sua inteligência e podem facilmente agradar o público adulto/jovem. Aproveitem!

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